RSS

Algumas Obras de Monteiro Lobato

Livro "O Saci" de Monteiro Lobato
Pedrinho, naqueles tempos, costumava passar as férias no Picapau Amarelo. Há muito era perseguido por uma idéia: caçar no Capoeirão dos Tucanos, a mata virgem do sítio. Dona Benta arrola mil razões para dissuadi-lo, em vão. Mas quando aventa a possibilidade de ele encontrar um saci, a coisa muda de figura… O que era medo se transforma em curiosidade, e Pedrinho vai à procura desses estranhos seres.
DOWNLOAD DO LIVRO


O criador do Sítio do Picapau Amarelo produziu o livro na mesma década em que traduziu Alice no País das Maravilhas, de Lewis Carroll (1832-1898). A referência, direta, está a serviço do projeto lobatiano de criar um paradidático sobre a língua portuguesa. Mais do que uma peça de ficção pedagógica, no entanto, Lobato constrói uma genuína gramática recreativa, complementar à da escola de seu tempo, ao disfarçar as regras em diálogos e dramatizações.

Pedrinho diz a Dona Benta que o ensino do idioma é uma "caceteação".

- Se meu professor ensinasse como a senhora, a tal gramática até virava brincadeira. Mas o homem obriga a gente a decorar uma porção de definições que ninguém entende. Ditongos, fonemas, gerúndios...

Emília, num sopro, sugere:

- Pedrinho - disse ela um dia depois de terminada a lição -, por que, em vez de estarmos aqui a ouvir falar de gramática, não havemos de ir passear no País da Gramática?

Em cenas como essa, Lobato solta o verbo contra a aprendizagem tradicional do idioma, em voga em muitas escolas mais de 74 anos depois. E encara o ensino de português como o momento em que, mais do que ser apresentado a conceitos e nomenclaturas descontextualizadas dos textos em que os exemplos gramaticais foram retirados, vivencia-se o conhecimento, num divertido passeio.

Vossa Serência

Lobato dramatiza a gramática e literalmente humaniza seus termos. O verbo "ser", os ditongos e as figuras de retórica, por exemplo, viram gente e ganham endereço - a cidade de Portugália, a mais próxima do sítio. O lugar lembra uma fruta incõe (gêmea) ou cidades "emendadas, uma mais nova e outra mais velha". A separação entre as duas partes é marcada por um braço de mar, anota Lobato.

Em carta ao educador Anísio Teixeira, de 21 de novembro de 1933, comentou:

"Inda agora fiz a entrevista de Emília, na qualidade de repórter do Grito do Pica-Pau Amarelo, um jornal que ela vai fundar no sítio, com o Venerabilíssimo verbo SER, que ela trata respeitosamente de Vossa Serência! Está tão pernóstica, Anísio, que você não imagina. Estamos pensando no J. Carlos para ilustrar este livro. Aqui não vejo nenhum desenhista capaz. Ah, se a Emília soubesse desenhar..."

O aprendizado do idioma é um jogo, confere Emília no País da Gramática. Lobato segue a gramática normativa, mas não como um purista. Cita Gramática Histórica de Eduardo Carlos Pereira (editada pelo próprio Lobato, na Companhia Gráfico-Editora Monteiro Lobato, nos anos 20) e inspira-se nela. A obra, é verdade, dava engulhos em Lobato, mas não a Quindim, que a comeu depois que o Visconde a esqueceu no pomar. Daí a insólita familiaridade do rinoceronte com o País da Gramática. É providencial a escolha do falante Quindim como guia da aventura, e não de Dona Benta, como de hábito. Dramaticamente, ele funciona como um educador ao nível da turma do sítio, e permite que as próprias crianças escolham o que desejam conhecer no novo mundo que descortinam.


DOWNLOAD DO LIVRO

Livros de Histórias Infantis Completos